PRESSUPOSICIONALISMO HERMENÊUTICO

Seja bem vindo! Aqui Você encontrará recursos para melhor expor a Palavra de Deus. Aqui você encontrará artigos, estudos, que mobililizarão sua mente até as Escrituras sob o pressuposto hermenêutico de que a Bíblia é a revelação de Deus ao homem.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

GÊNEROS LITERÁRIOS - O ANTIGO TESTAMENTO

PALAVRA DO TRADUTOR
Presidente do Centro do Estudos Presbiteriano.
      Estamos mais uma vez gratos a Deus por estarmos disponibilizando para os nossos leitores mais um texto de ordem acadêmica. O presente texto que o leitor tem em mãos foi traduzido do Tomo 9 da famosa coleção “Comentario Biblico Mundo Hispano – Proverbios, Eclesiastes, Cantares”. Este texto versa sobre um dos assuntos mais negligenciados pelos centros acadêmicos de teologia e de muitos pastores em geral, pois, a falta de conhecimento sobre este assunto tem gerado essa negligência. E visando minimizar esta tendência o Centro de Estudos Presbiteriano viabilizou a tradução deste texto.
         Por que este assunto? O que levou-nos a traduzir justamente este texto? A razão encontra-se na minha história acadêmica quando aluno no Seminário Presbiteriano do Norte era um completo ignorante da Bíblia como um livro de literatura; foi nas aulas de Exegese do Pentateuco que descobri que havia gêneros literários na Palavra de Deus! Aquilo fora uma revolução para a minha mente e aliado com o curso de Teologia Bíblica do Antigo Testamento me serviu como uma luva.
         Tornei-me um ávido amante da Escritura Veterotestamentária e assim, segui os passos da Teologia Bíblica e exegética (disciplinas que amo) ao traduzir este texto pensei nos alunos que nunca tiveram contato com tal abordagem, que não conhecem e por isso, não conseguem realizar uma exegese mais sólida da Palavra de Deus. E, esta é a razão porque estou disponibilizando para os nossos leitores este material que é simples, conciso, todavia, eficaz para um esclarecimento e abordagem geral sobre o tema.
AGRADECIMENTOS DO TRADUTOR
         Mais uma vez gostaria de deixar aqui uma palavra de gratidão: Ao meu Deus pelos dons necessários que me tem conferido a realizar este trabalho, a glória é toda dEle.
         Aos nossos leitores que tem sido indulgentes conosco em nos apoiar, corrigindo erros de digitação, de concordância verbal e verbo-nominal nos nossos textos e o carinho com que estimulam a continuarmos nesta empreitada pelo Reino de Deus.
         Ao Reverendo Gaspar de Souza meu professor de Exegese de Pentateuco que me fez ver as Escrituras como uma bela obra de literatura e por me ensinar sobre Teologia Bíblica do Antigo Testamento.
         Ao meu amigo Ivanildo Soares, com quem estudei no Seminário Presbiteriano do Norte, que tem sido conduzido pela graça de Deus a me estimular a escrever, traduzir e pensar sobre os gêneros literários do Antigo Testamento.
         Ao meu pastor Rodrigo Brotto que tem orado, apoiado o nosso trabalho junto a Igreja de Cristo aqui no Piauí – juntamente com o Conselho da Primeira Igreja de Teresina.
         Aos meus Alunos de Antigo Testamento e Novo Testamento no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil que sempre oram por mim – um dia querendo Deus voltaremos a nos encontrar em sala de aula!
         A Congregação Presbiteriana em Prazeres onde servi por quatro anos como despenseiro da Graça de Deus lecionando um breve curso sobre os Gêneros Literários do Antigo Testamento.
DEDICATÓRIA
         Gostaria de dedicar esta tradução à memória de um grande professor que tive na área de Antigo Testamento. Meu amor pelo Antigo Testamento começou a brotar quando assisti o curso de Introdução à Língua Hebraica no ano de 2003 no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil. O meu professor era o Rev. João Paulo de Souza Filho , um homem erudito, simples e profundo.
         Dominava várias áreas de ensino: Filosofia, Grego, Crítica textual do Novo e do Antigo Testamento, Educação cristã, Exegese do Antigo e Novo Testamento, Apologética – sempre me dizia: Joãozinho o iota do grego pode ser bom, mas quando você aprender o yod você verá o que é maravilhoso!  Falava isso para me mostrar a importância que o Antigo Testamento tinha para ele.
         Nas aulas de Hebraico eu dizia: Professor eu não vou conseguir aprender esses garranchos. Ele dizia piscando os olhos: Paciência Joãozinho todo inicio de paquera é assim!
         Lembro-me de uma vez pagando Introdução à Filosofia declarei: Odeio Filosofia! Ele prontamente respondeu: Vou fazer você amar filosofia – sua tarefa será ler o livro: O que é filosofia? De Caio Prado. Li o livro fiquei com muita raiva – quem já leu sabe como o livro é truncado – Ele me pediu um resumo do livro – apresentei o resumo, ele disse muito bem Joãozinho agora você vai ler o livro “O mundo de Sofia”! Nossa, me tornei um apaixonado por filosofia.
         Saudades deste grande mestre! Seria injusto de minha parte não fazer menção dele, pois, contribuiu muito para o meu crescimento na fé Bíblica Reformada, mas, infelizmente, ele morreu aos 39 anos de idade com Câncer com o desejo de continuar pregando no púlpito da sua Igreja, foi elevado aos céus como um campeão de Deus! Sua piedade era inigualável, sua cultura era erudita de mais, todavia, sua simplicidade cativava os amigos – até os que discordavam dele! Meu mestre de Hebraico; saudades! Veremos-nos no céu! Amém.
Pelo Reino, por um Evangelho da Graça,
João Ricardo Ferreira de França,
Presidente e Fundador do
Centro de Estudos Presbiteriano,
São Raimundo Nonato – PI,
28 de Janeiro de 2011.
GÊNEROS LITERÁRIOS DO ANTIGO TESTAMENTO
GARY LIGHT
         Mateus e Lucas nos preservam a história da tentação de Jesus. Uma das tentações que Jesus enfrentou foi a tentação daquilo que é espetacular: lançar-se do pináculo do templo. Como parte desta tentação, o diabo tratou de convencer a Jesus citando o Salmo 91: “Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.” Não obstante, Jesus rejeitou a tentação: “Não tentarás ao Senhor teu Deus”. Jesus reconheceu que a Escritura citada por Satanás não era uma promessa dada ao Filho de Deus, mas que era uma expressão poética da proteção de Deus dada para todos os crentes. Não é uma garantia literal que o Messias, ou ainda o crente, não sofrerá algum dano neste mundo. Jesus entendeu a importância de se saber o gênero literário de uma passagem bíblica para compreendê-la e aplicá-la à vida.
         Igualmente, nos ajudará compreender os diversos tipos de gêneros literários da Bíblia e reconhecer as formas literárias que contém cada gênero. Este artigo apresentará uma introdução básica aos Gêneros literários do Antigo Testamento (Antigo Testamento). Estudar-se-á tanto a importância dos gêneros na história das formas como sua importância nos novos métodos de interpretar o Antigo Testamento. Se identificarão as características gerais de cada gênero, suas formas mais usadas e os propósitos do uso de cada um. Assim o leitor estará mais bem preparado para interpretar o texto do Antigo Testamento.


GÊNEROS LITERÁRIOS E A HISTÓRIA DAS FORMAS
         A formação da Bíblia hebraica tem uma longa história. A religião de Israel não se iniciou com um livro escrito. Há muito tempo da história de Israel suas tradições religiosas se encontraram em uma forma oral e em conexão com as instituições ou celebrações específicas. Logo foram escritas para serem preservadas, e assim, estabelecer uniformidade nas tradições do povo e para formar uma grande obra utilizando várias tradições que se aplicam ao tema.
         A história das formas é o estudo do desenvolvimento das formas literárias breves do Antigo Testamento. Tem como objetivo fixar cada forma distinta em seu contexto sócio-histórico original. Assim se explica melhor sua significação e esclarece a vida social e cultural de Israel. Os gêneros literários do Antigo Testamento se dividem em seis classes gerais de literatura: Poesia cultual, escritos legais, e as literaturas históricas, proféticas, sapiencial e apocalíptica. Dentro de cada classe se identificam vários gêneros específicos que se originaram em situações distintas.
POESIA CULTUAL
         A poesia cultual do Antigo Testamento se encontra majoritariamente no livro de Salmos, porém não se limita a este livro. Por exemplo, há poemas semelhantes em Lamentações, Jeremias, Jonas, Isaías 40-66 e Jó. Estes textos mostram que o culto de Israel tinha várias cerimônias que utilizaram linguagem poética para expressar a comunhão entre o adorador e Deus. Algumas cerimônias se fixaram em certos tempos do ano quando todo o povo celebrou um evento histórico ou uma festa agrária. Outros ritos do culto mostraram fases diferentes da vida humana: nascimento, circuncisão, matrimônio e morte. Outros se observaram em momentos de crise do individuo (enfermidades, dúvidas, etc.) ou da comunidade (seca, invasão, etc.)
         Cada evento no culto tinha seus próprios gêneros poéticos. No entanto, não temos uma liturgia completa do culto de Israel. O livro de Salmos é mais um depósito de textos cultuais preservados para estudos e devoções. Podemos encontrar Salmos que se originaram nos tempos do segundo templo, outros que vieram da época anterior ao primeiro templo e outros que são de datas intermediárias entre os dois. O livro de Salmos mostra uma longa história em sua composição e sua coleção, porém, em cada coleção aparecem todos os gêneros.
         Em um estudo importante, Herman Gunkel identificou as formas básicas da literatura poética. Segundo ele, todos os gêneros se apresentam no culto do primeiro templo. No entanto, muitos destes salmos se perderam com a destruição do primeiro templo. Escreveram novos salmos durante o exílio para expressar a piedade e devoção individual aparte de um culto. Logo com a construção do segundo templo, os antigos salmos cultuais e os salmos não cultuais se uniram com os novos salmos pra o novo culto. Outros eruditos, Sigmund Mowinckel, crêem que o livro de Salmos preserva muitos salmos pré-exílicos. Estes eruditos no separam a devoção individual e o culto do primeiro templo. Crêem que os salmos que expressam a piedade individual, igual aos que contém elementos proféticos, sempre têm estado no culto de Israel. O exílio pode haver sido o impulso escrever, e o livro de Salmos recebeu sua forma final como o “hinário” ou “devocionário” do segundo tempo.
Lamentos e canções funerais
         O lamento, qina, tem um metro poético único em hebraico: cada línea contém cinco silabas com acentos. Este gênero se compõe de 1) Expressões de pesar e dor que começa com Ai! Ou Como! (2 Samuel. 1.25,27;Jeremias 22.18); 2) descrições de uma catástrofe ( 2 Samuel 1.19); 3) lembranças do bem estar ou poder anteriores (2 Samuel 1.22,23); 4) lamentos chorosos ( 2 Samuel 1.24); e , as vezes, 5) súplicas submissas (Lamentações 1.21,22). Ainda que todos os elementos não apareçam em cada lamento, há suficientes lamentos para fixar sua forma normal.
         Os lamentos bíblicos mais conhecidos são 2 Samuel 1.19-27; Amós 5.1-3; Ezequiel 19 e Lamentações. Erhard Gerstenberger sugere que a forma do lamento tem sua influência em alguns salmos (35;44;74), porém, o tom da perda total está ausente. Segundo ele, não há lamentos autênticos no livro dos Salmos.
Queixas
        Gerstenberger prefere nomear os textos como o Salmo 22 ou Jeremias 20.7-13 queixas em vez de lamentos. Esses poemas expressam um súplica antes de que caírem a catástrofe final. Eles refletem a dor que sofre o indivíduo e a esperança com que ainda pode dirigir-se para Deus que ele responderá com liberação de doenças, inimigos ou outras aflições pessoais. Toda a comunidade pode utilizar a queixa ante a ameaça  de seca, invasão, praga ou alguma maldade que sofre o povo em geral (por exemplo, Salmos 25). Assim a comunidade consulta a Deus pedindo sua ajuda e espera sua ação salvadora.
         Os elementos deste Gênero são: 1) A invocação a Deus (Salmos 22.1a); 2) a queixa que descreve ou pede (Salmo 22.1b,2); 3) A confissão de pecado ou protesto de inocência (Salmos 51.3-5; 59.3,4); 4) A declaração de confiança (Salmos 22.4,5,9,10); 5) A súplica de ajuda (Salmo 22.19,20); 6) A imprecação contra os inimigos (Salmos 59.5, 10-13); 7) O reconhecimento da resposta divina (Salmo 22.21:dos chifres dos búfalos; sim, tu me respondes.); 8) o voto (Salmos 22.22; 56.12); 9) A benção ou elementos hínicos (Salmos 22.3; 57.11); 10) A antecipação  da ação de graças (Salmo 22.22-27).
         Os elementos mais importantes deste gênero são a súplica e a imprecação contra aos inimigos. Há vários eruditos que sugerem que o Gêneros chama-se “orações de súblicas”. Contudo, Gerstenberg tem razão em dizer que as súplicas deste textos “sempre tratam de mudar uma situação de injustiça e miséria para uma melhor”. Por isso, o nome queixa descreve bem o gênero. Entre as queixas do Saltério estão os Salmos 3-7, 9-13,17,22,25-28, 35-36,54-57,59,69-71,120,130 e 140-143.
         Dentro do Saltério há alguns textos em que um elemento da queixa domina todo o Salmo. “A confissão de pecado” domina o Salmo 51 e o Salmo 26 se compõe do “protesto de inocência”. Há tantos salmos que consistem da “declaração de confiança” que quase forma um gênero próprio, Hinos de Confiança. Entre esta classe se encontram os Salmos 23,4,11,16,62 e 131.
Hinos de Adoração
         Os hinos de adoração celebram a Deus por várias causas: seu papel como criador, seu senhorio sobre a história, sua superioridade de poder e sua excelência em todas as coisas. Estes temas diversos expressam-se mediante uma forma que mostra elementos comuns: 1) Invocação a Deus (Salmo 8.1); 2) Chamado para adorar (Salmos 115.18; 117.1); 3) Louvores a Deus por suas qualidades, obras ou feitos (Salmos 115.1,15,16); 4) Bençãos ou desejos (Salmos 115.12-14).
         Os hinos babilônicos usavam muitas vezes umas invocações longas e artísticas para impressionar aos deuses a fim de que escutem. É interessante que no Saltério muitos hinos não contém a invocação. As invocações que aparecem são simples. A invocação do Salmo 18.1-3 é a mais ostentosa dos Salmos, porém não é como os da Babilônia. A maioria dos hinos no Saltério inicia-se com um chamado a adorar. É possível que um coro ou o dirigente do culto o proclamou e as pessoas da congregação participaram ao cantar os louvores. Talvez a melhor maneira de compreender os chamados que ocorrem no final de um salmo é que devem ser vistos como um sinal para que o povo continue cantando mais outros hinos. 
         Estes hinos eram utilizados nas festas anuais de Israel. Dentro destes próprios salmos se encontram detalhes da música e a liturgia. Sua estrutura é de uma apresentação antífona. Neste gênero se incluem os Salmos 8, 29, 33, 77, 103-104, 111, 139 e 145-150.
Cânticos de ações de graças
         O indivíduo em Israel fez uma promessa a Deus que faria um sacrifício se este o livrasse de seu problema ou aflição. Quando recuperava sua saúde, ou quando se aproximava sua salvação, o crente se dirigia até o sacerdote para pagar seu voto. O sofrimento ou o perigo se deixava para trás mediante este culto de sacrifício. Por isso, o hino de ações de graças se entoava com alegria e gratidão. Os elementos deste Gênero são: 1) O convite para louvar a Deus e lhe render graças (Salmos 66.1-4); 2) O relato de perigo e libertação (Salmo 41.4-9); 3) Louvores a Deus (Salmos 138.4-5); 4) fórmula de ofertas apresentadas em sacrifício (Salmos 138.1-2); 5) Bênçãos sobre os participantes no culto (Salmo 32.1-2); e 6) Exortação (Salmo 32.8-9).
         Nos Cânticos de Ações de Graças do indivíduo observa-se dois tipos de discurso. Por um lado, existe um discurso dirigido a Deus, na forma de oração. Por exemplo, a fórmula da oferta: Te dou graças ou Dou graças se dirige a Deus no momento de oferecer o sacrifício de ações de graças (Todah[1] ). Por outro lado, há um discurso dirigido aos participantes no culto ou a outros que observam. Este discurso bendize, explica e convida. Os dois tipos de discurso iluminam a natureza deste tipo de cerimônia dentro do culto de Israel.
         Este gênero se apresenta não somente pelos cânticos de um indivíduo, mas também pelas Ações de Graças da comunidade que celebram vitórias de Israel (Salmos 18; 66; 67; 118 e 129, igualmente como Êxodo 15.1-9 e Juízes 5).
Salmos reais
         No Saltério existe outro gênero que se distingue por sue conteúdo em vez de sua forma. Desde o tempo do erudito Gunkel os salmos que tocam os temas do rei e de sua corte se tem chamados de salmos reais. Suas formas podem variam entre queixas, cânticos de ações de graças e cânticos, porém celebra algo do rei: sua coroação (Salmos 2,110), seu casamento (Salmo 45) ou a cidade real (Salmo 132).
         Mowinckel acreditava que os salmos reais serviram primeiro ao culto real de Israel. O culto popular e a maioria dos salmos atuais se derivaram do culto real. Segundo Gerstenberg a situação foi oposta: O culto antigo de Israel foi de famílias e clãs. Logo em seguida, com o desenvolvimento dos governos de tribos, juízes e reis, o culto estatal adotou os ritos populares com seus gêneros poéticos. Ainda que seja verdade que os salmos reais mostram uma influência de outras culturas do Antigo Oriente Próximo, as formas reais mais antigas se derivam dos ritos do povo.
Salmos de Sabedoria e de Lei
         Há numerosos salmos que não se conformam com as características dos gêneros mencionados anteriormente. Estes salmos tem uma ênfase didática e empregam elementos da literatura sapiencial: 1) Provérbios, 2) Ditos numéricos, 3) Perguntas e respostas, 4) Acrósticos, 5) Beatificações, 6) Admoestações e 7) Proibições. Utilizam palavras chaves como "sabedoria" e "temor do SENHOR". Também utilizam temas da literatura sapiencial: o destino do justo e do injusto, e o problema do sofrimento do inocente. Estes salmos louvam a Lei (Torah, "instrução divina") e chamam ao leitor a meditar nela.
         Desde os tempos de Gunkel e Mowinckel se tem pensado que estes salmos não tinham uma relação  original com o culto de Israel. Ao contrário, se crer que os salmos de sabedoria foram escritos para usos educativos particulares. Este argumento se deduz, por exemplo, dos salmos acrósticos. Não forma escritos para uso oral no culto porque seu efeito se vê somente na forma escrita. Então, se diz, que trata-se de um artifício educativo. No entanto, Gerstenberger adverte contra tal conceito destes textos. Segundo ele, são poemas do exílio e refletem a mudança no culto que provocou a nova situação do povo de Israel. Sem templo e sacrifícios, espalhado pelo mundo, o povo de Israel manteve sua fidelidade a Yahweh mediante o estudo da Palavra de Deus escrita. Os salmos de sabedoria e de lei foram escritos para a instrução do povo nas sinagogas para que se mantivesse a identidade judaica. Gerstenberger os descreve como uma forma de conselho pastoral. Os salmos de sabedoria e lei incluem os Salmos 1;19; 34; 37; 49; 73;78; 91;112;119 e 127.
Liturgias de procissão e entrada
         Cinco dos salmos mostram um uso específico nos ritos de Israel. Se recitam antes de ingressar ao átrio do templo para adorar (Salmo 15 e 24) ou são cantados em procissão litúrgica (Salmos 68, 118, 132). Este gênero se destaca não somente por seu tema, mas também por seu uso da forma antífona que sugere um tipo de diálogo entre o sacerdote e os adoradores.
ESCRITOS LEGAIS
         Os escritos legais do Antigo Testamento se encontram no Pentateuco. Ainda que nos tempos mais tardios, Israel tinha que basear qualquer modificação de suas leis na autoridade e nos ensinos de Moisés. Na realidade, vários códigos legais se incorporam na narrativa da história de Israel sob Moisés: 1) Os dez mandamentos (Êxodo 20.1-17; Deuteronômio 5.6-21); 2 ) O código do pacto (Êxodo 20.22-23:19); 3) Leis deuteronômicas (Deuteronômio 12-26); e 4) O código de santidade (Levítico 17-24). Estas coleções de leis mostram os vários gêneros dos escritos legais.
         A maioria das leis foram escritas na forma casuística. Uma lei casuística é uma que descreve um caso específico, o distingue dos casos semelhantes e especifica as conseqüências (Êxodo 21.18-19). O comentarista Patrick propõe uma divisão deste gênero. A lei casuística primária é aquela que descreve uma relação legal entre pessoas e os direitos e deveres na relação antes que ocorra alguma violação (Êxodo 22.25). Esta forma é mais pessoal que a lei casuística remediadora que descreve uma violação de direito e seu remédio legal (Êxodo 22.5)
         As leis casuísticas do Antigo Testamento, tanto na sua forma como em seu conteúdo, tem muito em comum com as leis dos códigos reais do Antigo Oriente, por exemplo o Código de Hamurabi. Alguns sugerem que Israel adotou estas leis da cultura de Canaã. É melhor reconhecer que os clãs de Israel compartilharam de um ambiente cultural semelhante ao dos patriarcas e estas leis são partes desse mundo sociológico.
         Entre as leis do Antigo Testamento estão as da forma apodítica, que afirma incondicional e categoricamente uma asserção do bem e o mal. É uma lei absoluta que não depende de condições ou casos. Este gênero se divide em três classes: 1)mandamento, que proíbe na forma absoluta sem especificar o castigo pela desobediência (“Não furtarás”, Êxodo 20.15); 2) Leis de morte, que afirmam que certas ações trazem a morte como conseqüência (“o que maldisser a seu pai e a sua mãe morrerá irremediavelmente”, Êxodo 21.7); e 3) a maldição, que pronuncia uma maldição sobre a pessoa que faz certa ação. Este juízo recebe o apoio do povo que responde: Amém! (Deuteronômio 27.15-26)
         Albrecht Alt foi quem primeiro fez a distinção entre leis casuísticas e leis apodidícas, ele acreditava que as leis apodidícas eram distintivamente israelitas. No entanto, hoje se reconhece que outras culturas também tiveram leis absolutas que sãs paralelas com os mandamentos. É discutível se as leis apodidícas  tem sua origem na autoridade do clã e da tribo ou na autoridade do culto. Pelo menos Israel utilizou esta forma de instrução religiosa e moral conhecida no Antigo Oriente para expressar a vontade de Deus.
         Estas coleções de leis expressam como Israel deve viver sob a vontade de Deus. Por isso, o conteúdo destas leis toca não somente a vida religiosa, mas também a vida secular. Toda a vida é dedicada a Yahweh, então não há distinções entre o sagrado e o secular. Também estas coleções apresentam-se como uma parte integral de uma tradição maior, o pacto entre Yahweh e Israel. Colocar os códigos legais na estrutura do pacto acentua que a natureza dos escritos legais é expressar a vontade de Deus de uma forma pessoal: Yahweh (ou seu porta-voz) se dirige ao seu povo que o escuta.
LITERATURA HISTÓRICA
         Muito do Antigo Testamento é narração da história de Israel desde sua origem como família e clã até as épocas das tribos, monarquia, cativeiro e restauração. A definição de “história” para o estudo literário da Bíblia não é a da ciência moderna porque o propósito do Antigo Testamento não é apresentar uma “exposição sistemática dos acontecimentos” de Israel. Todos os livros da Lei (Torah) e os livros dos profetas anteriores tem um propósito kerigmático, proclamar a palavra de Deus mediante eventos seletivos, interpretados e ordenados da história de Israel.
         Encontram-se distintas formas na apresentação desta história. Os autores, ou redatores das narrativas usaram muitas tradições, escritas e orais, para relatar os atos de Deus na história de seu povo. Por sua natureza, a narrativa histórica contém exemplos de discurso formal (2 Reis 18.17-35) e de uma carta ( 2 Reis 5.5-6). Também, se preservaram listas em contar a história de Israel como a lista do saque em números 31.32-40. As Genealogias (Gênesis 10.1-32) e itinerários (Números 33.5-37) são tipos especiais de listas. As formas de informes e etiologias preservaram tradições dos nascimentos (Gênesis 25.19-26), batalhas (Gênesis 14.1-24) ou a origem do nome de alguma coisa, prática ou lugar (Gênesis 32.30-32).
         Os nomes de outras formas que compõe a narrativa histórica do Antigo Testamento podem ser mal compreendidos. Estes nomes se originam no estudo da literatura folclórica da Alemanha. Deve-se lembrar que estes termos descrevem uma forma literária  e não fazem juízo quanto ao valor histórico do conteúdo da forma. As narrativas de Gênesis são descritas com o termo saga. A saga é uma larga narrativa tradicional em prosa, que pode ser primitiva (Gênesis 1-11), familiar (Gênesis 12-26) ou heróica (Êxodo 2-14). A própria saga se compõe de uma coleção de outros tipos de relatos mais breves. Uma tradição histórica pode preservar-se na forma de uma lenda. Vale salientar que a palavra lenda não questiona nada do valor histórico da tradição. É um termo que descreve um relato cuja narrativa põe ênfase em uma característica de herói, especialmente uma de suas virtudes. Distingue-se da fábula, que narra um relato que inclui figuras humanas e animais. É típico da fábula ensinar uma moral ou corrigir o egoísmo de uma pessoa (Números 22.31-35). Não existem mitos no Antigo Testamento porque o mito se define como uma narrativa fantástica que explica o mundo humano pelas atividades dos deuses no mundo celestial. O Antigo Testamento não conhece nenhum Deus fora do Deus vivo e verdadeiro, Yahweh. As vezes um escritor pode utilizar uns temas de mitos ou aludir a eles em sua descrição de um evento ou de uma pessoa histórica, porém não devemos dizer que há mitos no Antigo Testamento.
         Estes elementos das sagas refletem uma transmissão oral até, e inclusive, a formação de uma longa narrativa. Do outro lado a novela é uma narrativa complexa que se originou como um relato escrito. Muitas vezes inclui com sua história principal várias histórias subordinadas (Gênesis 37.1-47:27, Rute e Ester).  
LITERATURA PROFÉTICA
       Os livros proféticos se compõem de uma coleção de oráculos dos profetas e, normalmente, relatos da vida dos mesmos. As tradições dos profetas anteriores se preservaram na forma narrativa e se encontram na obra do historiador. Nesta seção se considerarão as obras dos profetas posteriores. Muitas variedade na composição destes livros: podem se formar em uma ordem cronológica (Ezequiel) ou sem ordem cronológica (Jeremias); podem formar-se dos oráculos do profeta exclusivamente (Sofonia)  ou de uma narrativa que não tem mais que cinco palavras da pregação profética (Jonas).
         As narrativas dos livros proféticos se expressam na terceira pessoa ou na primeira. Preservam a vocação ou chamamento do profeta (Isaías 6; Jeremias 1), visões (Amós 8.1; Ezequiel 37) ou ações-sinais (Isaías 7.3; Oséias 1.2-9; Jeremias 27). Também há vários informes do conflito que narram um encontro hostil entre o profeta e a autoridade cultual ou real (Jeremias 26.1-19; Amós 7.10-17).
         Não obstante, os gêneros proféticos mais importantes são os que preservam o discurso dos profetas. A pregação dos profetas aparece de modo geral em uma forma poética. Há um número de sermões em prosa no livro de Jeremias que tem causado muita discussão entre os eruditos. É melhor entendê-los com uma imitação dos sermões deuteronomísticos pelo profeta. No entanto, os discursos poéticos formam a maior parte das palavras proféticas e variam na origem e no gênero. 
         Muito do discurso profético parece ter sua origem em um ambiente legal ou cultual. O pleito do pacto[2] é uma forma comum nos profetas. É um litígio contra o povo de Deus que contém um chamado a testemunhas, declaração de um pleito, um exposição  dos pesos contra o povo e um anúncio do castigo que corresponde com os pesos (Oséias4.1-3). A provisão para arrepender-se compõe-se de um chamado de atenção  e uma declaração de motivação. O chamado consiste na fórmula do mensageiro (“Assim diz Yahweh”), e o vocativo (“oh apóstata Israel”) e a admoestação. A declaração inclui uma promessa, uma acusação e uma ameaça (Jeremias 3.12, 13). O profeta soa[3] como juiz em Israel quando pronuncia um discurso de juízo. Não obstante, suas palavras não são as de um juiz humano, são as do juiz divino. Este gênero inclui o peso e o juízo (Amós 7.16-17). Outro Gênero profético é o oráculo de salvação que anuncia um evento futuro (“naquele dia”) sem explicação de mérito do que Deus fará por seu povo (Oséias 2.18-23). Supõe-se que este gênero é uma adaptação do discurso litúrgico do sacerdote que responde a uma lamentação do indivíduo. Os profetas também adotaram hinos do culto em sua mensagem (Amós 4.13; 5.8,9; 9.5,6). Em outras ocasiões fizeram paródias do chamado à adoração do sacerdote (Oséias 4.15b; Amós 4.4,5).
         É fato que os profetas adotaram e adaptaram formas de discurso de muitas áreas da vida, não só as jurídicas e cultuais. O uso de parábolas e alegorias pelos profetas sugere uma influência de sabedoria nos profetas. Assim também o uso de provérbios (Jeremias 23.28) e ditos numéricos (Amós 1. 3-2:8) demonstra um conhecimento da sabedoria das tribos. O profeta pode imitar os cantos de amor (Isaías 5.1-2) ou um lamento (Amós 5.2,3). Talvez este último seja a origem dos oráculos de Ai(Amós 6.1).
         É importante notar que os profetas utilizaram e adaptaram um grande número de Gêneros para pregar sua mensagem. Os profetas bíblicos não tinham um púlpito em um templo ou uma congregação que lhes ouvia semanalmente. Tinham que proclamar nas praças, nos mercados ou na entrada da cidade. Para que se escutassem sua mensagem tinham que utilizar as formas de um litígio ou uma canção para chamar a atenção da multidão. A variedade de gêneros proféticos é um testemunho para a grande variedade de situações nas quais pregaram os profetas.[4]
LITERATURA SAPIENCIAL
         A Bíblia contém uma classe de literatura que se distingue por sua ocupação do tema da sabedoria (Hokmah). Esta classe exibe temas e gêneros característicos, porém não podemos designar todos os textos que utilizam os gêneros como literatura sapiencial. É possível encontra uma parábola na literatura profética (Ezequiel 15) ou uma fábula na literatura histórica (Juízes 9.8-15), porém, Ezequiel não é um sábio e nem o livro de Juízes é um exemplo de literatura sapiencial. As tradições sapienciais da Bíblia consistem em Provérbios, Jó e Eclesiastes.
         Disputa-se a origem das tradições sapienciais de Israel. Vários provérbios e admoestações bíblicas sugerem que o lar servia como primeiro centro de instrução; a sabedoria se iniciou como uma função das famílias ou clãs. As responsabilidades de instruções se compartilhavam ente o Pai e a mãe (Provérbios 6.20) e não prestar atenção resultaria em castigo (Provérbio 13.24). Que a sabedoria tem uma origem popular se vê nas semelhanças que comparam várias tribos com animais (Gênesis 49.8,9,14 e 17), No entanto, alguns provérbios se entendem melhor como produtos da corte (Provérbios 16.12-15). Por isso, sugere-se que a sabedoria de Israel tem sua origem em uma escola da corte para instruir aos príncipes. Não é estranho chama ao mestre “pai” e há suficientes modelos de tais escolas no Antigo Oriente como no Egito e Mesopotâmia.
         As duas teorias não são mutuamente exclusivas. O lar tem de ser um lugar de instrução, especialmente dos jovens. Este tipo de instrução utilizou ditos memoráveis por séculos na  em uma forma oral. Logo, com estabelecimento de escolas na corte, se colecionaram os aforismos, provérbios e ditos populares juntamente com a sabedoria de outras culturas (compare Provérbios 22.17-24:22 com a sabedoria de Amenemope). Este processo de coleção se iniciou no reino de Salomão, porém, durou por séculos (Veja Provérbios 25.1;30.1; 24.23). Por fim, no tempo do cativeiro formou-se uma escola de escribas religiosos que preservou a sabedoria “secular” da corte porque era uma expressão da sabedoria de Deus e a estimou como torah, “instrução”, igual como a Lei. Esta escola que deu a Jó, Provérbios e Eclesiastes sua forma canônica.
         Na literatura sapiencial encontra-se uma quantidade de formas. O aforismo, mashal, pode distinguir-se entre: 1) O Provébio, que é um aforismo popular baseado na experiência e na observação (Provérbio 11.24; 2) o dito sábio, que é um dito didático que infunde um valor ou uma lição (Provérbio 16.20); e 3) o dito numérico, que é um aforismo caracterizado por uma forma numérica que consiste em um título e uma lista (Provérbios 30.18,19). Não é necessário que o dito sábio seja bem conhecido pelo povo. O mestre pode formar um exemplo para ensinar uma lição específica. A sabedoria usa também admoestações (Provérbios 16.3), mandatos (Provérbios 8.33) e proibições (provérbios 22.24,25). Segundo Provérbios 1.6 os sábios usaram enigmas para instruir, porém o único exemplo completo no Antigo Testamento se encontra em Juízes 4.10-18.
         Também, os sábios empregaram formas mais extensas em suas instruções. Usa-se a alegoria, um conto cujos detalhes  representam outras coisas na interpretação (Provérbio 5.15-23). Existe o conto exemplar que é um relato concreto para ilustrar um ponto de ensino (Provérbios 7.6-23). A narrativa autobiográfica, seja confissão ou reflexão pessoal, compartilha a experiência rica do sábio com o aluno (Eclesiástes 1.12-2:26). Finalmente, os sábios ainda utilizam hinos para descrever a sabedoria. Se personificou a sabedoria e o hino louva esta personificação (Jó 28)]
LITERATURA APOCALÍPTICA
         Friedrich Lücke reconheceu a literatura apocalíptica como uma classe distinta no século XIX. No entanto, pouco se tem feito para analisar as formas do gênero. As causas desta carência inclui o uso múltiplo do termo apocalíptico para descrever elementos sociológicos e filosóficos tanto como literários e o fato que o gênero apocalíptico usa muitas formas literárias que se encontram na literatura profética. Na realidade muitos querem classificar a literatura apocalíptica como uma classe de literatura profética. No entanto, parece melhor reconhecer que a diversidade de formas componentes e as semelhanças delas com outros gêneros não escondem a consistência que a literatura apocalíptica tem em si.
         A literatura apocalíptica é um gênero de literatura que narra a revelação de uma realidade transcendente por parte de um ser sobrenatural. Esta realidade tem aspectos temporais e especiais, a saber, que tem a ver com uma salvação final na história (escatologia)e um novo mundo sobrenatural. Há duas divisões neste gênero: um apocalipse com viagem ao outro mundo e um apocalipse histórico que não inclui uma viagem ao mundo sobrenatural. Exemplos de livros apocalípticos judaicos do primeiro subgênero são 1 Enoque 1-36; 2 Enoque e 3 Baruque. Os livros canônicos (Apocalipse do Novo Testamento e Daniel do Antigo Testamento) são exemplos do subgênero apocalíptico histórico. A função deste gênero literário é prover uma visão do mundo que consola a comunidade de fé em tempos de crise e opressão. Sua revelação da vontade de Deus e sua última vitória apóiam as pessoas a manter-se fiel sob a autoridade divina que é maior que a autoridade opressiva que se lhes opõem.
         A forma mais comum da literatura apocalíptica é a visão (ou sonho) simbólica (Daniel 7-8). Esta narrativa se compõe de uma indicação das circunstâncias, uma descrição da visão ou sonho, uma petição por uma interpretação (muitas vezes uma oração e se faz por medo), a interpretação alegórica por um anjo (porém em 2 Baruque 39 é o próprio Deus quem interpreta) e uma conclusão que conta a reação do vidente ou inclui mais instruções do anjo.
         A epifania(Daniel 10.1-9) também é uma narração de uma visão. Contudo, esta visão é menos compreensiva que a visão simbólica e consiste em uma revelação da vontade divina por parte de uma anjo sem elementos visuais. Relacionada com esta forma é o diálogo revelador. É uma conversação entre o recipiente e um ser celestial que revela (um anjo ou o próprio Deus). Este diálogo pode ocorrer em uma visão ou independente dela.
         Daniel é o único livro apocalíptico no Antigo Testamento com sua visão do fim decisivo da história. Há outras obras proféticas que tem um interesse escatológico, contudo se mantém firmemente dentro da história deste mundo. Por isso, Isaías 24-27, 55-66 e Zacarias 9-14 podem ser descritos como literatura proto-apocaliptica. Zacarias 1-8 e Ezequiel também são protoapocalipticos quanto ao seu simbolismo, visões e uso de um anjo como intérprete. O desenvolvimento completo do gênero apocalíptico estava no período inter-testamentário como O testamento de Levi, Apocalipse de Sofonias, Apocalipse de Abraão e Similitudes de Enoque, entre outros. Este Gênero se usava não somente no Novo Testamento (Apocalipse), mas também na criação de livros apocalípticos dos gnósticos.
OS GÊNEROS E OS NOVOS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
         Não é suficiente simplesmente identificar os gêneros ou as formas do Antigo Testamento e buscar a situação na qual o povo vivia (Sitz im Leben) na qual se originou cada forma. Estas tradições se formavam com formas orais e escritas. Originalmente elas se preservaram por diferentes grupos em Israel, uma independente da outra. No entanto, agora não existem mais como formas isoladas, mas como elementos integrados no contexto de um livro (e no contexto mais amplo do Antigo Testamento como uma totalidade). Por isso, é imperativo estudar os textos do Antigo Testamento em sua forma final; estudá-los como escritura e como literatura.
         O estudo da história das formas trata de penetrar por detrás do texto bíblico para reconstruir a situação sócio-histórica de cada texto. A crítica canônica não usa o texto como uma fonte de um significado que está detrás do texto, mas reconhece que o significado do texto bíblico para comunidade da fé tem raízes no próprio texto. Enfoca-se no que o texto diz ao crente. Para descobrir o que o texto diz, o leitor deve apreciar não somente o processo da composição literária do texto, mas também deve considerar como a comunidade da fé o tem compreendido em cada geração.
         As comunidades de fé que aceitam o Antigo Testamento como escritura (a Comunidade judaica e a cristã) tem adotado textos completos, não somente partes de textos. Tem adotado estes textos durante as mudanças em suas situações históricas. Por exemplo, as leis cerimoniais de sacrifícios no livro de Levítico não tinham o mesmo significado para o Israel pré-exílico como o que tinha para os judeus da diáspora ou o que tinha para os primeiros cristãos. A crítica canônica, então, reconhece que o texto sagrado pode ter uma pluralidade de significado dentro de uma comunidade de fé.
         O estudo da Bíblia como literatura é a inda mais amplo porque uma interpretação autêntica do texto não depende que o intérprete seja membro da comunidade da fé. O texto bíblico analisa-se com obra literária com uma ênfase nas estratégicas artísticas do texto. Os libros da Bíblia são obras literárias em si mesmas. As tradições que se preservam nestas obras agora perdem sua independência e se desligam de seu Sitz im Leben social. Formam parte de um texto que cria seu próprio “mundo”. É trabalho do intérprete apreciar este “mundo do texto” e realizar claras conexões entre este mundo e o mundo do leitor.
         Os métodos da nova crítica literária se centralizam no texto como uma totalidade. É importante ler a obra como novela ou poesia ou ainda como obra didática. Busca-se não somente o gênero de uma seção da obra, mas também se quer identificar o gênero  da obra completa que causa a coesão de todas as partes em formar algo maior que simplesmente a soma das partes, que é o texto. Outros métodos literários se centralizam no leitor como quem produz o significado da obra. Nestas teorias da resposta do leitor[5] o significado se encontra na interpretação entre o texto e o leitor. Todavia, para chega a uma interpretação autêntica, o leitor tem de reconhecer a coerência da obra total, as saber tem que reconhecer o gênero que oferece à obra sua unidade.
         O estudo dos Gêneros do Antigo Testamento se iniciou na tentativa de identificar micro-gêneros, formas breves e reconstruir a situação sócio-histórica de sua origem. No entanto, esta identificação de um evento por detrás do texto como nós o temos não é o fim da interpretação Bíblica. Há também a necessidade de reconhecer o gênero da obra completa, o macro-gênero, apreciar sua arte literária no uso de formas, micro-gêneros, e descobrir os significados para a comunidade da fé que existem, na conexão entre o “mundo do texto” e o mundo da comunidade. Dominar os gêneros do Antigo Testamento nos ajudará a entender o significado do texto da Bíblia, a Palavra de Deus.
  
      


[1] Nota do Tradutor: No hebraico a palavra é hd"_At
[2] NOTA DO TRADUTOR: Literalmente é o Caso da aliança ou Caso do pacto.
[3] NOTA DO TRADUTOR: Fala
[4] NOTA DO TRADUTOR: Para um entendimento mais claro dos gêneros literários apresentados nesta seção veja a minha monografia: FRANÇA, João Ricardo Ferreira de. A Relevância do Antigo Testamento para a Pregação Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2009, p.48-71 – Obra não publicada.
[5] NOTA DO TRADUTOR: Para um estudo mais apurado deste método recomendamos o leitor à leitura do excelente artigo de PATROCÍNIO, Jorge. Validade na Interpretação Bíblica: A interação Cíclica de Autor, Texto e Intérprete – Uma Resposta Reformada para uma Hermenêutica Pós-Moderna in: FIDES REFORMATA XI, nº2 (2006): p. 101-119.

PREGAÇÃO FIEL

PREGAÇÃO REFORMADA.
TEXTO BÁSICO: 1 Coríntios 1.18-25.

Introdução:
            A nossa época é marcada pela crise na pregação da Palavra de Deus, ironicamente a mídia televisiva, radiofônica e impressa tem divulgado pregações, cd’s, dvd’s e livros com pregações têm abarrotado as livrarias de modo geral. Ainda, assim, olhamos em nossa volta e percebemos que a pregação continua ausente em nossa época. Por que tudo isso? O púlpito está perdido em nossa época.
            Há um grito desesperado no coração dos crentes. Eles pedem uma Igreja verdadeira. Onde está esta Igreja? Ora, esta igreja só pode ser achada quando o púlpito ressoa a trombeta de Deus, ou como coloca Paulo, quando a loucura de Deus se manifesta! A pregação é a marca distintiva da Igreja. Esta marca era usada pelos reformadores para identificar uma Igreja verdadeira. Mas, em nossa época tornar-se difícil de encontrar um púlpito fiel, e o que dizer de uma igreja verdadeira.
            Alguém poderá perguntar: é realmente necessária a pregação? Por que vocês presbiterianos dão tanta importância à pregação? Porque ela é o divisor de águas entre o céu e o inferno.  Champell nos lembra algo interessante sobre isso:

Sabemos serem insuficientes nossas habilidades para uma tarefa de tão amplas conseqüências. Reconhecemos que o nosso coração não é puro o bastante para guiar outros à santidade. Uma honesta avaliação de nossa perícia inevitavelmente nos leva à conclusão de que não temos eloqüência ou sabedoria capazes de lavar as pessoas da morte para a vida.[1]

            Nos dias de hoje o sermão é desprezado pela Igreja de Cristo com tanta facilidade que C.H.Spurgeon chegou afirmar o seguinte: “A apatia está por toda a parte. Ninguém se preocupa em verificar se o que está sendo pregado é verdadeiro ou falso. Um sermão é sermão, não importa o assunto; só que, quanto mais curto, melhor” [2] As palavras de Spurgeon ressoam em nossa época, pois, na verdade tal negligência tem ocorrido em nossos dias, por isso, precisamos encarar este assunto com mais seriedade. Neste breve estudo falaremos sobre a Pregação Fiel como a marca distintiva da verdadeira Igreja.
            Pois, a Igreja sem pregação assemelha-se a corpo sem alma, ela não tem vida. Ela tem barulho, choro e gritos – como acontece em um funeral – mas muitos têm atribuído isso ao Espírito Santo, todavia, não percebem que o Espírito age com e por meio da palavra.

I - A HISTÓRIA DA PREGAÇÃO – SUA MAJESTADE E GLÓRIA.

            Não podemos falar sobre este assunto sem entendermos como a História da Igreja o encarou, ou seja, como a Igreja viu a questão da pregação fiel da palavra? No texto que lemos Paulo valorizava a pregação oferecendo conotações dramáticas. O que é a pregação? Stott nos diz que é “a ênfase exclusiva do cristianismo” [3].
            Por onde começar a nossa peregrinação histórica da pregação? Dargan nos indica que tal procura deve ser vista no próprio cristo, pois, o “Fundador do cristianismo, pessoalmente, foi o primeiro dos seus pregadores...” [4] os evangelhos apresentam cristo como indo e “proclamando as boas-novas de Deus” (Mc. 1.14; 1.39; Mt.4.17; 4.23; 9.35).
            Somos informados pelas Escrituras que os apóstolos davam prioridade à pregação da Palavra em Atos 6.4.
            Os pais apostólicos insistiram nesta mesma temática – a pregação fiel da palavra – conforme vemos no relato de Justino Mártir:

E no dia chamado Domingo, todos quantos moram nas cidades ou no interior reúnem-se juntos num só lugar, são lidas as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, por tanto tempo quanto possível; depois, tendo terminado o leitor, o presidente instrui verbalmente, e exorta à imitação dessas coisas virtuosas. Em seguida, todos nos colocamos de pé e oramos e, conforme dissemos antes, ao terminarem as nossas orações são trazidos pão, vinho e água, e o presidente, de modo semelhante, oferece orações e ações de graças, segundo a sua capacidade, e o povo concorda dizendo amém.[5]

            Outro pai apostólico chamado Tertuliano diz basicamente a mesma verdade sobre a pregação da palavra no dia do Senhor. Mas, penso que não existe pregador mais proeminente na história da Igreja do que o João Chryssostomos – conhecido como o Boca de Ouro – bispo na Igreja Grega; os historiadores dizem que pregação de Chryssostomos possuía quatro características basilares que veio a tornar-se padrão para a pregação fiel;
1.      Era uma pregação Bíblica.
2.      Interpretação simples e direta.
3.      Aplicação prática.
4.      Era destemida em suas colocações.

Na realidade ele “era mártir do púlpito, pois foi principalmente sua pregação fiel que provocou o seu exílio” [6]. No período dos reformadores e dos puritanos a pregação recebeu tamanha importância, a ponto de o bispo Latimer dizer: “A Palavra de Deus é semente para ser lançada no campo de Deus” e “o pregador é o semeador”, o título deste sermão era “Mão no Arado”, durante um momento de sua pregação Latimer , faz uma pergunta inusitada: “Quem é o bispo e prelado mais diligente em toda a Inglaterra, que supera todos os demais no exercício do seu cargo? ...Vocês querem saber quem é? – é o Diabo. É ele o pregador mais diligente entre todos dos demais”, ele prosseguiu:
Nunca está ausente da sua diocese; nunca está longe de sua comunidade eclesiástica; você nunca o achará desocupado; sempre está na sua paróquia; mantém resistência a todo tempo; você nunca o achará indisponível... Onde o Diabo está em residência e está com seu arado em andamento, ali: fora os livros e vivam as velas!; fora as Bíblias e vivam os rosários!; fora a luz do evangelho e viva a luz das velas – até mesmo ao meio-dia!; [...] vivam as tradições e as leis dos homens!; abaixo as tradições de Deus e sua santíssima Palavra! [...] portanto vocês, prelados que não pregam, aprendam com o Diabo: a serem diligentes no exercício do seu cargo [...] Se vocês não quiseram aprender de Deus, nem de homens bons, a serem diligentes no cargo, aprendam do Diabo.[7]

Ou seja, se somos preguiçosos para estudarmos a Palavra de Deus para aplicar, pregar e defendê-la, se não pregamos e expomos a Palavra de Deus aos homens somos inimigos da causa do evangelho. E a pregação é o único veículo pelo qual o mundo pode encontrar salvação.
Então, pregue a Palavra, pois, a pregação continua sendo majestosa e é nosso dever pregar com autoridade singular sem reservas, sem medo, e crendo que Deus tem usado este método para salvar pecadores como declarou Paulo no texto que citamos acima.

II – A PREGAÇÃO FIEL É AQUELA QUE EXPÕE O TEXTO.

            Algumas pessoas dizem que tudo o que vemos na Igreja nos Domingos à noite deve ser caracterizado como pregação; todavia, a autêntica pregação é aquela que expõe o texto, conhecida como pregação expositiva. Ela deve ser uma prática na vida daqueles que sobem ao púlpito; temos visto que, muitos preferem pregar temática ou topicamente. Por quê? Bem, porque é mais fácil pregar em cima de um tema; geralmente os teólogos sistemáticos pregam desta forma; trabalham temas na Igreja no Domingo à noite – não estou dizendo que a pregação não deva Ter um tema – o que estou dizendo é que o texto não pode ser exposto com a pressuposição doutrinária que se deve abordar.
            Deixe-me explicar: Imagine que você quer pregar sobre a trindade. Então, lança mão do texto de Gênesis 1.1 para fundamentar a doutrina; a primeira pergunta a ser feita é: Moisés estava pensando na Trindade quando escreveu este texto, especialmente no uso do substantivo plural elohim? E se formos sinceros diremos que não, logo o texto não serve, mas isso anula a doutrina? Não. Agora você prepara um estudo sobre o assunto, e começa com João 14.23 – “viremos e faremos nele morada” cristo está falando de uma Trindade? Sim. Então eu posso agora compreender Gênesis 1.1 – ali vejo, pelo escopo de toda a revelação, a forma embrionária da Trindade.
            A pregação expositiva ela se concentra apenas no texto que é lido. Por que é tão difícil pregar expositivamente? Porque exige mais do pregador:

1.      Exige conhecimento histórico: o contexto da passagem deve ser levado em consideração.
2.      Exige conhecimento do texto original e de sua gramática
3.      Exige conhecimentos de exegese e hermenêutica.
4.      Exige muita leitura – manuais de exegese, manuais de interpretação, comentários bíblicos.
5.      Exige conhecimento dos sistemas doutrinários: credos, confissões, teologias sistemáticas.

A Igreja sempre pregou expositivamente? Esta é uma grande pergunta. A resposta é afirmativa, pois vemos isso no dia de Pentecostes que o sermão de Pedro foi expositivo, veja como está estruturado o sermão:
I – Jesus de Nazaré foi um homem aprovado por Deus.
ü  Em Sua vida
ü  Em Sua morte
ü  Em Sua Ressurreição
ü  Em Sua ascensão aos Céus.
II - Jesus recebeu o Espírito santo e derramou o que vocês vêem e ouvem .

III – Deus fez a este Jesus, Que vocês crucificaram, Senhor e Cristo.

IV – Aplicação
1.      Arrependam-se
2.      Sejam batizados em o nome de Jesus Cristo.
V – Promessas:

1.      Remissão dos pecados
2.      Dom do Espírito Santo
3.      Inclusão dos Filhos
4.      E muitos que estão longe, tantos quantos o nosso Deus chamar.[8]

Outro texto neotestamentário que nos apresenta uma pregação expositiva é Atos 7 – conhecido como o sermão de Estevão. Este tipo de sermão sempre esteve presente na vida da Igreja desde os seus primórdios, o sermão do monte que Cristo proferiu é expositivo.
Por que pregar expositivamente? Penso que a pregação expositiva nos oferece algumas verdades fundamentais:

1.      Restaura a pregação da crise.
2.      Anula os métodos subjetivistas (místicos)
3.      Restaura a autoridade da Bíblia
4.      Restaura a vida da Igreja.

Estas quatros realidades são manifestadas quando pregamos expositivamente. Isso implica em algumas coisas. Primeiro, nos mostra que a crise na pregação de hoje é o resultado da nossa negligência, pois, não estamos pregando a Bíblia fielmente. Esquecemos do que Paulo nos diz em 1 Coríntios 4.1-2 nossa pregação deve ser fiel; em segundo lugar, o método subjetivo deve ser rejeitados quando pregamos expositivamente a palavra, um exemplo disso, é o uso que muitos fazem de João 14.6, e dizem que vêem ali três coisas: Caminho – indica a lei de Deus.
                                         Verdade - Indica que o mundo é uma mentira
                                         Vida – indica a Pessoa de Cristo.
Esta abordagem do texto é subjetiva, e ignora a exegese do texto. Jesus não está dizendo três coisas distintas, mas ele está usando uma figura chamada Tríade Sinonímica. Isto quer dizer que Cristo estava dizendo uma única coisa: Eu sou o caminho vivo e verdadeiro. Então não adiante pegar este texto para fazer uma pregação de três pontos!
Quando pregamos expositivamente restauramos a autoridade da Bíblia, estamos dizendo ao nosso povo que todas as nossas idéias derivam da Bíblia. Ou seja, a pregação expositiva diz que a Bíblia continua sendo o padrão absoluto em um mundo pós-moderno. Por que dizemos isso?  É porque sabemos que nem “todas as respostas que a igreja proporciona por meio dos seus pregadores proclamam boas-novas. Algumas simplesmente abandonaram toda esperança de encontrar uma fonte da verdade que tenha autoridade.” A Bíblia se torna o centro do culto e da vida do crente quando é confrontado expositivamente pelo texto sagrado no Domingo à noite. “Tal pregação apresenta a voz de autoridade que não procede do homem e assegura respostas não sujeitas a fantasias culturais”.[9] A Bíblia recebe plenamente a autoridade quando pregamos fielmente as Escrituras.
A pregação expositiva também oferece vida para a Igreja. A lei de Deus quando é ensinada oferece vida e vivifica a alma (Sal. 119.25; João 6.68). A pregação é a palavra de Cristo à Igreja; é nosso dever pregar expondo a Bíblia.

III – A PREGAÇÃO FIEL ESTÁ COMPROMISSADA COM A SUFICIÊNCIA DA BÍBLIA COMO PALAVRA DE DEUS.

            Como identificar uma Igreja verdadeira? Bem, temos visto que a pregação fiel da palavra é a principal marca de um Igreja verdadeira. Não é qualquer pregação, note é a pregação fiel. Ou seja, ela deve ser fiel a revelação de Deus. Isso nos leva para o principio da Reforma chamado de Sola Scriptura (somente as Escrituras).
            Todo sermão deve refletir a crença incontestável de que a Bíblia é a única fonte de autoridade na vida da Igreja. Os que não crêem assim podem até pregar, mas não são pregadores fiéis a Bíblia, e assim, a Igreja que pastoreiam não pode ser classificada como Igreja verdadeira.
            O que estamos querendo dizer é que a pregação expositiva condena toda prática e doutrina que suplanta as Escrituras por meio de novas revelações ou tradições humanas. O “assim diz o SENHOR” das Escrituras é o imperativo da pregação expositiva. Bíblia e somente Bíblia e nada de revelações, supostamente produzidas pelo Espírito Santo!
            A pregação fiel é o principal meio de graça da Igreja de Cristo, ou seja, Cristo fala a sua Igreja somente por meio dela, pois, ela é a Palavra de Cristo – Hebreus 1.1; no entendimento presbiteriano a pregação é o “mais excelente meio pelo qual a graça de Deus é comunicada aos homens...” [10]
            As nossas experiências espirituais não podem de forma alguma anular a Palavra proclamada de Deus (2 Pedro 1.15-21) , é exatamente isso que nos diz Pedro, ele que teve uma tremenda experiência no monte da Transfiguração, mas não usou esta experiência para sufocar a palavra profética que estava sendo anunciada.
            A pregação expositiva quebra toda tradição anti-bíblica; não há meios pelo qual possamos ser pregadores fiéis e mantermos tradições que não tem apoio na Bíblia. Os nossos e credos devem ser analisados a luz da Palavra de Deus. O fundador do presbiterianismo na Inglaterra Thomas Cartwright era um bom Anglicano, todavia, decidiu fazer uma série de pregações expositivas no livro de Atos e descobriu que o governo da Igreja primitiva era o sistema de governo presbiteriano, então, ele rompeu com sua tradição Anglicana e iniciou o presbiterianismo Inglês.[11]
            A pregação fiel reconhece que a Escritura é plenamente suficiente em tudo o que afirma, pois, é assim que nos ensina Paulo em 2 Timóteo 3.15-17. A pregação expositiva deve estar compromissada com a verdade da suficiência da Palavra de Deus.




IV – A PREGAÇÃO FIEL RESTAURA O CULTO.

Como saber se a Igreja que freqüentamos é verdadeira? Devemos olhar para o culto! O culto é o reflexo de como tratamos a pregação; ou é o resultado da pregação. A pregação torna o culto o que ela é.
A pregação expositiva é simples. Logo o culto deve ser simples. A pregação expositiva é clara; cada ato litúrgico deve ser claro; a pregação expositiva é bíblica; tudo no culto deve Ter sanção bíblica. A pregação expositiva é prática, então, o culto deve ser prático; a pregação expositiva visa a glória de Deus e por conseqüência o culto deve manifestar plenamente essa glória de Deus.
A pregação ocupa o lugar central no culto que prestamos a Deus. A reforma litúrgica só torna-se possível se a pregação estiver neste lugar central.  Josias nos tempos do Antigo Testamento fez uma reforma radical no culto porque a Lei de Deus fora achada e lida! A Reforma Protestante foi a reforma do culto mediante a Proclamação da Palavra. A palavra reforma o culto.
os sinais pelos quais a igreja é reconhecida são a pregação da Palavra e a observância dos sacramentos, pois estes, onde quer que existam, produzem fruto e prosperam a benção de Deus. Eu não estou dizendo onde quer que a Palavra seja pregada os frutos imediatamente apareçam; mas que onde quer que seja recebida e habite por algum tempo, ela sempre manifesta a sua eficácia[14]

            Então, se desejamos saber se estamos em uma Igreja verdadeira devemos de fato olhar como a pregação afeta o culto! Um culto onde os homens não são reverentes, não ouvem a pregação da Palavra como elemento Central (Veja: Neemias 8), este culto não foi restaurado pela Pregação. E por quê? Porque se fala da Palavra, mas não se prega ela fielmente! Em muitos cultos a Palavra é usada como apêndice, pois, o Teatro, o coral, a coreografia, as palmas, o conjunto de Louvor tornam-se o centro do culto, remove-se a pregação e coloca-se o entretenimento. A pregação dura apenas alguns minutos, e é tratada de forma subjetiva e a mensagem é triunfalista! “Deus vai mudar sua sorte”, “Deus me revelou que a tua vitória vai chegar”; e assim, eles chamam isso de pregação. Isso não é a pregação que caracteriza a verdadeira Igreja.
            A pregação fiel restaura o culto porque coloca Deus no lugar de Deus, e o homem no lugar de homem. Onde o pecado é confrontado, os deveres são exigidos, onde a santidade é exposta, onde o inferno é mostrado, onde a graça é manifestada na proclamação temos uma Igreja verdadeira. O culto verdadeiro é reflexo de uma pregação fiel. A Igreja que ama a pregação expositiva é uma Igreja preparada para enfrentar o mundo; se amamos a pregação expositiva vamos inevitavelmente amar o culto a Deus.

CONCLUSÃO:
            Diante do que já temos exposto o que podemos aprender e aplicar para nossas vidas? Que conclusões podemos tirar de tudo isso que falamos?
1.      Nunca despreze a Pregação: A história do cristianismo nos alerta para a majestade da pregação e sua glória .
2.      Entenda que a Igreja Verdadeira valoriza a Pregação expositiva: Para identificar se aquela Igreja é verdadeira avalie sua pregação, se ela não expõe fielmente os ensinos da Bíblia, saiba que ali não há Igreja alguma.
3.      Apegue-se a verdade de que a Igreja Verdadeira está comprometida com a suficiência da Palavra de Deus: Línguas, profecias e revelações ou tradições humanas não podem silenciar a voz do púlpito!
4.      Se uma pregação em uma Igreja não restaura o culto, então, ali não temos uma Igreja verdadeira: A Igreja Verdadeira terá a preocupação de que tudo o que for realizado no culto deve ser ordenado, por um mandamento explícito, exemplo histórico e inferência bíblica. A Igreja que está comprometida com a pregação expositiva terá profundo amor para com o culto a Deus e visará somente a glória de Deus!



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

1.      ANGLADA, Paulo R.B. Introdução à Pregação Reformada, Pará: 2006, p.66
2.      CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã, 4.1.2, São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
3.      CHAPEL, Bryan. Pregação Cristocêntrica – Restaurando o sermão expositivo: Um guia prático e teológico para a pregação bíblica, São Paulo: Cultura Cristã, 1ªEdição, 2002.
4.      DARGAN, E.C. History of Preaching, p.7, vol. II In: STOTT, John. Eu Creio na Pregação, São Paulo: Vida, 2003.
5.      LLOYD-JONES, David Martyn. O Puritanismo e Suas Origens, São Paulo: PES.
6.      MARCARTHUR, JR, John. Com Vergonha do Evangelho – Quando a Igreja se Torna como o Mundo, São Paulo: FIEL, 2ª edição, 2004.
7.      MÁRTIR, Justino. Primeira Apologia, Cap. 67, In: Ante-nicene Fathers.
8.      MERLE D’AUBIGNÉ, J.H. History of the Reformation in the Time of Calvino, Vol. 7, Albany, Oregon: Ages, 1998.
9.      SCHAFF, Philip (org.). The Nicene and Post-Nicene Fathers, p. 22, vol. 9.
10.  SMITH, Morton H. Systematic Theology, Vol. 2, Estados Unidos da América: Greenville Seminary Press, 1994, p.563
11.  STOTT, John. Eu Creio na Pregação, São Paulo: Vida, 2003, p.15
12.  Works of Hugh Latimer, p.59-78, vol, 1.
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[1] CHAMPELL, Brayan. Pregação Cristocêntrica – Restaurando o sermão expositivo: Um guia prático e teológico para a pregação bíblica, São Paulo: Cultura Cristã, 1ªEdição, 2002,p.17.
[2] Apud, MARCARTHUR, JR, John. Com Vergonha do Evangelho – Quando a Igreja se Torna como o Mundo, São Paulo: FIEL, 2ª edição, 2004, p. 5
[3] STOTT, John. Eu Creio na Pregação, São Paulo: Vida, 2003, p.15
[4] DARGAN, E.C. History of Preaching, p.7, vol. II In: STOTT, John. Eu Creio na Pregação, São Paulo: Vida, 2003, p.17.
[5] MÁRTIR, Justino. Primeira Apologia, Cap. 67, In: Ante-nicene Fathers, p.69.
[6] SCHAFF, Philip (org.). The Nicene and Post-Nicene Fathers, p. 22, vol. 9.
[7] Works of Hugh Latimer, p.59-78, vol, 1.
[8] SMITH, Morton H. Systematic Theology, Vol. 2, Estados Unidos da América: Greenville Seminary Press, 1994, p.563
[9] CHAPEL, Bryan. Pregação Cristocêntrica – Restaurando o sermão expositivo: Um guia prático e teológico para a pregação bíblica, São Paulo: Cultura Cristã, 1ªEdição, 2002,p.11
[10] ANGLADA, Paulo R.B. Introdução à Pregação Reformada, Pará: 2006, p.66
[11] LLOYD-JONES, David Martyn. O Puritanismo e Suas Origens, São Paulo: PES, p.23.
[12] MERLE D’AUBIGNÉ, J.H. History of the Reformation in the Time of Calvino, Vol. 7, Albany, Oregon: Ages, 1998, 82.
[13] CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã, 4.1.2, São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
[14] Ibid, 4.1.10.